terça-feira, 10 de dezembro de 2024


Era uma vez no Jardim.


Nos jardins da biblioteca de Uberaba,  o sol poente iluminava o reencontro de dois amigos. Frade Francisco, com sua batina simples, e Ruan Barbosa, com seu sorriso irônico.


"Quanto tempo, Ruan! O que te traz de volta?", perguntou Frade Francisco, abrindo os braços com um sorriso de lado, típico de alguém que a curiosidade provaca.


"A busca pela verdade", respondeu Ruan, "e para ser honesto, talvez essa seja uma procura inútil, pois aparentemente estou ficando escravo dela também.”


Frade Francisco sorriu. "Sim, mas e a fé Ruan? Ela não poderia ser um belo mecanismo para livrar-se dessa sensação de grilhões que pespontam seus pensamentos irriquietos?"


Ruan ergueu uma sobrancelha. "A ciência não pode provar a existência de Deus, mas pode provar a existência da nossa busca por significado."


"Um belo argumento para conduzir a responsabilidade de uma busca para outra.", diz em um tom brincalhão. “Veja Ruan,  procurar um sentido para nossa existência talvez seja exatamente desvendarmos as nossas motivações,  e que pelo que entendo, elas, as motivações, vem antes do próprio sentido. Creio, disse Frade Francisco, "a fé é um salto no escuro, mas a ciência é um mergulho no desconhecido. E se formos apenas uma ilusão?.”


Ruan sorriu. "Então, somos ilusões brilhantes. A essência humana existe, Francisco.  Eu quero prová-lo."


Frade Francisco balançou a cabeça. "A prova não é necessária. A busca é o que nos faz humanos."


Ruan, aparentemente não satisfeito, questiona: “mas meu amigo, e a fé? Como tê-la se não posso prová-la?”


“Eis a motivação da fé por si própria. É como um espelho refletindo a si mesmo ao infinito.  Veja: Se você entender como um “deus”, esse rapaz que neste momento está escrevendo essa crônica, nós talvez apenas existamos porque ele nos criou. Estendeu-nos  esse jardim, esse outono acinzentado, as flores vermelhas naquele canto, inclusive está fazendo tudo isso neste exato momento.”


“Como assim Frade?” 


“Pois bem, temos um criador. Mas e ele? Também possui um? Não sabemos e nem ele. A única coisa que ele sabe é que o café dele está acabando e precisa de um pouco mais para enviar a crônica aos amigos.”  Sorri, Frade Francisco ao perceber o desespero de Ruan.”


"Frade, também preciso de um pouco de seu vinho."

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