Era uma vez no Jardim.
Nos jardins da biblioteca de Uberaba, o sol poente iluminava o reencontro de dois amigos. Frade Francisco, com sua batina simples, e Ruan Barbosa, com seu sorriso irônico.
"Quanto tempo, Ruan! O que te traz de volta?", perguntou Frade Francisco, abrindo os braços com um sorriso de lado, típico de alguém que a curiosidade provaca.
"A busca pela verdade", respondeu Ruan, "e para ser honesto, talvez essa seja uma procura inútil, pois aparentemente estou ficando escravo dela também.”
Frade Francisco sorriu. "Sim, mas e a fé Ruan? Ela não poderia ser um belo mecanismo para livrar-se dessa sensação de grilhões que pespontam seus pensamentos irriquietos?"
Ruan ergueu uma sobrancelha. "A ciência não pode provar a existência de Deus, mas pode provar a existência da nossa busca por significado."
"Um belo argumento para conduzir a responsabilidade de uma busca para outra.", diz em um tom brincalhão. “Veja Ruan, procurar um sentido para nossa existência talvez seja exatamente desvendarmos as nossas motivações, e que pelo que entendo, elas, as motivações, vem antes do próprio sentido. Creio, disse Frade Francisco, "a fé é um salto no escuro, mas a ciência é um mergulho no desconhecido. E se formos apenas uma ilusão?.”
Ruan sorriu. "Então, somos ilusões brilhantes. A essência humana existe, Francisco. Eu quero prová-lo."
Frade Francisco balançou a cabeça. "A prova não é necessária. A busca é o que nos faz humanos."
Ruan, aparentemente não satisfeito, questiona: “mas meu amigo, e a fé? Como tê-la se não posso prová-la?”
“Eis a motivação da fé por si própria. É como um espelho refletindo a si mesmo ao infinito. Veja: Se você entender como um “deus”, esse rapaz que neste momento está escrevendo essa crônica, nós talvez apenas existamos porque ele nos criou. Estendeu-nos esse jardim, esse outono acinzentado, as flores vermelhas naquele canto, inclusive está fazendo tudo isso neste exato momento.”
“Como assim Frade?”
“Pois bem, temos um criador. Mas e ele? Também possui um? Não sabemos e nem ele. A única coisa que ele sabe é que o café dele está acabando e precisa de um pouco mais para enviar a crônica aos amigos.” Sorri, Frade Francisco ao perceber o desespero de Ruan.”
"Frade, também preciso de um pouco de seu vinho."
Nenhum comentário:
Postar um comentário