segunda-feira, 18 de novembro de 2024

longe de casa

a leveza do ar contrastava com a intensidade da luz deste dia. a caminhar estava -  chutando latinhas na rua. O som do metal refletia como um alerta a meus ouvidos: “acorde”. 

naquele momento era apenas uma pessoa longe de casa. longe de mim. fugindo.

observava imperfeições  em tudo. esta visão trazia um espelho à minha frente. mais latinhas surgiam e eu as chutava. as chutava e seu som metálico enlouquecia-me. por que arde tanto? por que fere-me tanto?

eu era apenas uma pessoa longe de casa. não conseguia entender.

desisti então de chutá-las. catei-as pois. observei-as. senti o frio metal em minhas mãos. o calor do sol as aqueceu...sim, não posso chutar as latinhas pois preciso colhê-las. 

eu era apenas uma pessoa longe de casa. começando a entender.

observá-las de perto...ahhhhhh….que horror!!! a complexidade de perceber que minhas latinhas amassadas nunca mais voltariam ao que um dia foram deixou-me devastada.

mas eu era apenas uma pessoa longe de casa. e queria entender.

cansada, sento-me. eu era apenas uma pessoa longe de casa. aprendendo a entender.

avisto em meu horizonte uma bela construção. imperfeita. 

Pessoas sorrindo dentro dela. Cantando ao dançar. Percebo em sua imperfeição a perfeição. 

sorrio. entendo. 

fui apenas uma pessoa longe de casa. 

e agora entendo.

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