Pedro, 72 anos, sentado no banco, era o maestro da espera. Sua voz interior sussurrava: "A vida é um espetáculo, e eu tenho o melhor assento."
Enquanto aguardava, o mundo girava ao redor. O barulho dos carros, um coro distante. O aroma de combustível, um perfume amargo. Pedro sentia cada fio de ar, cada sombra que dançava.
Seus pensamentos navegavam pelas lembranças: juventude, amores, perdas. A vida, um mosaico de sensações. Cada pedaço, uma história.
Ao redor, um casal, de mãos dadas, mas olhares distantes, discutia sobre o peso da vida. Sussurros tensos, como gotas de chuva em telhado de zinco.
Uma criança, com risos contagiantes, empurrava um carrinho de plástico na calçada. O barulho das rodas no asfalto era música para Pedro.
E, ao lado, um jovem dedilhava o violão. Acordes tristes, esperançosos. Sua melodia se misturava ao barulho da cidade.
Pedro sentia essas histórias, sem precisar de palavras. O casal, a criança, o músico – todos eram atores em seu teatro interior.
O rugido dos freios quebrou o encanto. O ônibus, um monstro gentil, parou ao lado. Pedro reconheceu o som, o cheiro, a vibração.
Ele se levantou, seguro, e estendeu a mão. O motorista, um fantasma bondoso, ajudou-o a subir.
Enquanto o ônibus partia, Pedro sentiu o vento no rosto. A cidade, um borrão de sons e cheiros. Ele sorriu, sabendo que estava em casa, no seu mundo de sombras e luzes.
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